Acabei de achar um álbum nosso embaixo do meu colchão. Ele, já quase terminado, está com capa dura, desenhos que fiz de próprio punho, letras de música, papel de bala, ingresso de cinema e fotos nossas, desde o churrasco na casa do Juca onde nos conhecemos, até aquela nossa última viagem pro Guarujá.

     Nele eu vejo sorrisos de orelha a orelha, olhares loucamente apaixonados e declarações que nem acredito que escrevi. Estou surpresa com toda essa intensidade e amor descabido. Recordo-me de momentos que já não pensava há muito tempo, e uma mistura de riso com choro me invade.

     Passo o dedo por alguns recortes de revista, me lembrando o quanto procurei as imagens prefeitas, as letras mais bonitas e o que eu achava que expressava o mais sincero e profundo amor. Relembrei da minha indecisão: Te presentear no dia dos namorados ou no nosso aniversário de namoro? Pensei, repensei, perguntei e me preocupei... Para no fim não chegarmos a nenhum desses dois.

     Foda, né? Foda como tantos planos, sonhos e amor, simplesmente evaporam. Pensar que chegamos a discutir nomes e possíveis padrinhos dos nossos filhos, que não chegaram nem perto de nascer... Ri agora, me lembrando daquele vestido de noiva que arranquei ilegalmente da revista no salão de cabeleireiro, porque quando bati o olho me imaginei caminhando com ele, até você, na igreja do padre Miguel.

     Ouço passos no corredor e recoloco o álbum no colchão. Sorrio, ao ver entrando pela porta do meu quarto, o homem que hoje é pra mim tudo o que você foi um dia. Ele se joga na cama, me puxa e depois abraça. Eu o aperto, anotando mentalmente que não posso esquecer de jogar o nosso álbum no lixo...

     O cheiro dele enche os meus pulmões... Ele, com quem hoje sonho sonhos parecidos com os quais sonhei ao seu lado... Meu sorriso vacila por um segundo e eu penso se um dia tudo isso vai evaporar também.

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