intercâmbio viagem crescer

     Há algum tempo eu olhava no calendário, mas o tempo parecia não passar. Dois mil e quinze não chegava, cada dia de janeiro parecia durar 3... Então, de repente, os dias tomaram algum energético e aceleraram. E cada vez que eu batia os olhos no calendário, me surpreendi ao ver que fevereiro já estava batendo na porta. Mais precisamente dia cinco de fevereiro de dois mil e quinze, o dia em que eu embarco pra Cork, Irlanda.
     Nunca pensei que fosse possível ter sentimentos tão felizes e outros tão triste, todos ao mesmo tempo. É uma mistura de realização, medo e saudade. Um conjunto de pensamentos conflitantes, que parecem que vão me enlouquecer. Sinceramente, não me admiraria se, ao invés de ir para o meu intercâmbio, eu fosse parar num hospício. Ok, talvez não seja pra tanto, mas é quase isso!
     Cada vez que eu olho para os meus cachorros eu tenho vontade de chorar. E isso se repete quando observo meus pais, minha casa, meu quarto. Rolou uma feijoada aqui em casa e eu ficava pensando que seria a última vez que eu comeria uma dessas em um longo espaço de tempo. Sim, até a feijoada fez meus olhos ficarem mais úmidos do que o normal.
     Como algo pode ser tão fácil e difícil? Como duas forças opostas podem coexistirem num mesmo espaço, no mesmo momento? É o sim e o não. O negativo e o positivo. O querer e o não querer. A vontade de ir, mas também de ficar. Um desejo de liberdade, que se funde com um outro desejo: o de me prender no meu quarto e não sair nunca mais.
     Ás vezes eu sinto que eu esperei por isso a minha vida toda. Cada momento, escolha e caminho, estavam me guiando, me ensinando, para o momento que eu estou prestes a viver em alguns dias. E isso me motiva, mas também me assusta. Me faz ser uma gigante, com vontade de se encolher. Ou talvez eu tenha passado a vida inteira encolhida, e agora sinto o peso, a dificuldade, de ter que me levantar e crescer.
     Eu fico falando para o meu coração que ele vai ter que aguentar. Já que ele quis tanto um sonho tão longe e tão grande, no mínimo ele tem que parar de se apertar. Eu respiro fundo e me concentro no quão lindo é o que eu estou prestes a viver. Fecho os olhos e imagino os melhores cenários, crio a vida incrível que me aguarda.
     Poxa, podiam ter dado uma oportunidade de eu fazer um alongamento, né? Precisava mudar assim, tão rápido e radicalmente? Bom, se precisava ser tudo tão brusco assim, eu não sei. Só sei que é assim que é. E tudo bem, porque eu vou chorar milhões de lágrimas, mas eu vou conseguir. Ah, se vou!

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