despedida

     Era por volta de oito da noite quando cheguei com meus pais na casa da minha avó, fomos pegar minha tia para então irmos ao hospital. Há poucos dias as visitas foram liberadas: não havia hora certa, nem tempo mínimo para nos preocuparmos, agora só nos restava corações apertados.
     Lembro que me sentei na cozinha, olhei em volta e pensei que ela nunca mais estaria ali. Respirei fundo pra que ninguém percebesse meus olhos cheios de água e dor, enquanto milhares de "nuncas" passavam pela minha cabeça.
     O caminho para o hospital foi de histórias e risos, mas cada pequeno silêncio que surgia era repleto de uma tristeza que eu nunca experimentara antes. No corredor as conversas eram baixas, os sentimentos e desejos contraditórios... Já fazia um tempo que conversar com Deus tinha ficado difícil: Como pedir que o melhor acontecesse, quando sabíamos que o melhor iria doer? 
     Sou um pouco sensível para algumas coisas, certas situações me deixam meio fraca, com tontura ou coisas do tipo. Mas aquele dia, quando entrei naquele quarto de hospital, prometi a mim mesma que ficaria ali o máximo de tempo que eu pudesse.  Me coloquei ao lado da cama e peguei na mão dela por debaixo do lençol, sabendo que aquela era a última vez.
     Era mais de meia-noite quando fomos embora, eu dei um beijo em seu rosto e sussurrei em seu ouvido que tudo ficaria bem e que eu a amava muito. O caminho pra casa foi silencioso.
     Quando minha mãe foi me acordar no dia seguinte, eu senti algo diferente, um carinho leve no braço, um olhar triste. Levantei e, mesmo sabendo, aproveitei aqueles minutos antes de receber a notícia. Ao entrar na cozinha minha mãe sorriu pra mim, um sorriso pesaroso, e me abraçou. O telefone tinha tocado ás duas horas da manhã...
     O resto do dia foi rápido, cheio de borrões, pessoas que eu não via há muito tempo, e também com momentos que eu nunca vou me esquecer. O choro do meu pai (que continuou vindo a tona nos dias seguintes), a imagem do meu avô, sentado na cadeira, com o olhar perdido. E a minha avó. Linda, serena e, finalmente, em paz, deitada no caixão.
     Conforme os dias foram passando as coisas foram melhorando. Parece que vai doer pra sempre, mas a gente vai se acostumando, vai entendendo. Procuramos fotos e relembramos histórias, Alguns momentos são mais difíceis, pensar que vai chegar o Natal, um novo ano e nada nunca será igual.
     Uns dois meses depois e tudo já parecia bem de novo. Sentada no sofá, enquanto  via alguma besteira no celular, ouvi meu pai chegando. Sorrimos um para o outro:

- Onde você estava? - perguntei, voltando a mexer no celular.
- Na casa da vó... - meus dedos paralisaram, olhei pra cima e encontrei o olhar do meu pai no meu. Então, depois de um momento de silêncio, ele se corrigiu. - Na casa do vô.

     O coração aperta, então volta o nó na garganta e as lágrimas nos olhos. Ah, vó, que saudades!

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